quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Técnica, talento e inspiração: Seleção Brasileira de Literatura.

Onze anos de magistério não é tanto tempo assim, se comparados aos currículos de colegas com quem dividi espaço em várias escolas. Mas nesses poucos anos de experiência, aprendi, junto aos meus alunos e companheiros, que cada aula é um espetáculo, um show, cada aula é uma exposição de obras de arte, cada aula é uma apresentação teatral, cada aula é uma partida de futebol. Toda atividade depende de técnica, talento e inspiração. Sei que podem parecer inusitadas as comparações, principalmente a última, mas essas analogias são um resultado da vida que levei como professor de Literatura, músico e amante de futebol até hoje. E sempre tento mostrar como esses mundos são paralelos.

Por exemplo, imagine um time com a seguinte escalação:

No gol: Alberto de Oliveira - impassibilidade parnasiana, frieza e ausência de sentimentalismos para evitar gols. Camisa 1 em mãos seguras.
Na lateral direita: Cruz e Souza – simbolista de técnica e subjetividade ao mesmo tempo. Ataca e defende com a mesma qualidade. Camisa número 2.
Na zaga central, a dupla: Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga – dois árcades de estilo neoclássico, fortes e objetivos como devem ser os defensores. Camisas 3 e 4 respectivamente.
Na lateral esquerda: Castro Alves – Poesia social do século XIX, engajamento político e ao mesmo tempo a poesia lírica amorosa no ataque, que fôlego! O capitão do time com certeza. Camisa número 6.
No meio campo defensivo: Oswald de Andrade – contra tudo e contra todos, destruindo o academicismo dos times adversários e criando o ataque da equipe. Roubando a bola e criando as jogadas iniciais do século XX. Um líder natural do elenco. É o nosso camisa 5.
Na meia direita: Carlos Drummond de Andrade – Simplicidade e capacidade de observação. Sabe como ninguém organizar o jogo e servir os companheiros, mostrando como uma jogada mais fácil pode ser mais complexa para o adversário do que se imagina. É o garçom da equipe e coloca os outros colegas na cara do gol sempre. Camisa número 8.
Na meia esquerda: José de Alencar – Um dos maiores craques do time. Patriota do século XIX, não abre mão de servir a seleção em qualquer compromisso. Sua capacidade de criação e técnica unidas à sua vasta produtividade dão ao time a força para as vitórias. Camisa número 9.
O médio ofensivo: Machado de Assis – O gênio da arte! Camisa número 10! O show-man dos gramados literários. Romances, crônicas, contos, poesias, um repertório vasto de jogadas no Realismo do século XIX. Base do time. Criador da famosa Academia. O craque é um ídolo no mundo todo, tendo reinventado a forma de se entender o foco narrativo e o jogo.
Na ponta direita: Augusto dos Anjos – O craque da alma torta. Parte para cima dos adversários com grande agressividade no ataque. Usa de sua técnica apurada para criar as jogadas mais agudas do ataque do time. Tem personalidade muito forte e é odiado por muitos desafetos. Apesar de envolver-se sempre em muitas polêmicas, o craque nunca é esquecido nas convocações, por ter visão de jogo e alertar o time para seus defeitos em campo. Por ser arredio, é pouco badalado pela imprensa. É o camisa número 7.
O centroavante e artilheiro: Vinícius de Moraes – O último romântico! Sabe tratar a pelota! Chama a bola de “minha menina”. Não precisa de muito espaço para marcar seus gols, é um matador nato. Boêmio, mulherengo e de boa vida. Nunca cuidou muito da forma física, porém era decisivo para que amassem ainda a arte. Foi sempre visto na companhia de astros e participou de grandes parcerias em várias atividades artísticas. Mostrou, no século XX, que a tradição podia conviver com a modernidade e trouxe novamente a subjetividade para a arte literária. Queridinho das fãs e dos amantes da seleção, não deixa por menos e marca seus gols em qualquer vacilo dos adversários. É o dono absoluto da camisa número 11.

Por isso, quando um jovem perguntar por que tem que estudar Machado de Assis, José de Alencar, Olavo Bilac etc., responda com outro questionamento: você já ouviu falar de Pelé, Garrincha, Zico, Romário etc.? Técnica, talento e inspiração!

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