sábado, 4 de maio de 2013

Terra de Caolho

Esse texto foi escrito para avaliação no curso de Pós-Graduação em Língua Portuguesa que estou fazendo. Serve para matar a curiosidade, principalmente, de meus alunos que gostariam de ler alguma dissertação minha para saber o como escrevo. Só como curiosidade, também, a minha nota nesse texto foi DEZ.

 Um dos ditados populares mais famosos diz que "em terra de cego, quem tem um olho é rei". José Saramago, em seu "Ensaio sobre a Cegueira", chamou a atenção para a reflexão sobre a real condição de quem "tem um olho" numa "terra de cegos". Fato é que quem vê mais, ou enxerga melhor a realidade que o cerca, é especial em relação aos indivíduos da maioria cega. E deles, que enxergam, se espera mais.

 Ser sábio não é condição fácil. A sabedoria, um modo de ver claramente a realidade, transforma o sábio num ser que carrega a marca de ser diferente. O poeta, o filósofo, o profeta, o sacerdote, o governante, o professor são seres de quem se espera que revele a verdade das coisas. A massa, o povo, o indivíduo "mediocritas" espera desses entes especiais o direcionamento. É deles essa responsabilidade, pois veem e todos os outros não. Como as sociedades caminhariam sem esse ombro que as conduzisse? Ver é um fardo pesado para se carregar.

Num mundo como o de hoje, em que a informação está na palma da mão, saber ver é muito mais do que identificar formas. É entender, ter capacidade crítica para saber ver, e usar esse conhecimento para tirar a sociedade de uma postura de passividade e fazê-la enxergar.

Ao mestre, ao sábio, cabe a responsabilidade não de mostrar a verdade, mas de ensinar o caminho para que se veja a própria verdade com os próprios olhos. Ver não deve ser privilégio de quem tem um olho. Quem tem um olho deve fazer de sua visão um modo para que a terra não seja mais de cegos. Numa terra agora assim, quem tivesse um olho seria considerado, finalmente, apenas caolho.

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